Mãe e Trabalho





É só você se levantar para ir ao trabalho, de manhã, que seu filho faz uma carinha de tristeza. Desde que as mulheres começaram a sair em massa para o mercado de trabalho, há 40 anos, precisam enfrentar esse tipo de dilema. Pensam que estão abandonando os filhos e que eles vão sofrer muito com sua ausência. E pensam nas conseqüências que isso trará para o futuro deles. Se isso passa por sua cabeça com freqüência, não se preocupe. Seu trabalho traz mais benefícios para seu filho do que você pode imaginar.

A primeira vantagem é óbvia: o dinheiro. A maioria das mulheres trabalha, hoje, por necessidade. As famílias precisam do salário de homens e mulheres. É uma tranqüilidade não depender apenas de uma fonte de renda. Se o marido ou a mulher perdem o emprego, situação não incomum, existe uma rede de segurança, algo que protegerá a todos, principalmente os filhos, durante a crise. Mesmo quando não há nenhum problema, o dinheiro permite que as crianças tenham acesso a coisas que não poderiam de outra forma. Uma escola de qualidade, aulas de natação, dança ou inglês. Essas atividades podem fazer a diferença no futuro, quando ela entrar no mercado de trabalho, e mesmo para se tornarem adultos mais equilibrados e saudáveis. Claro que não é preciso, nem recomendável, colocar a criança em milhares de atividades, deixando-a sem tempo livre para brincar e aprender livremente. Mas uma boa escola e uma ou duas atividades extras são bem-vindas. E isso custa caro.

Se o marido ganha o suficiente para os dois, a mulher se sente culpada em trabalhar, afinal, teoricamente, a família não precisa. Mas a situação não é tão simples. A jornalista americana Leslie Bennetts, autora do livro The Feminine Mistake (O Erro Feminino, inédito no Brasil), que fala das razões para as mulheres não pararem de trabalhar, argumenta que, nesse caso, as mulheres ficam dependentes do marido. E se ele pedir o divórcio? E se você quiser o divórcio? E se ele perder o emprego? E se acontecer um acidente? Nesses casos, toda a família fica vulnerável. Principalmente a criança, que vai se encontrar em uma situação difícil de repente.

Com as mulheres trabalhando, abre-se um espaço importante para que o homem participe mais da vida em família. A situação ainda não é a de uma divisão meio a meio, o que sobrecarrega muitas mães, mas aos poucos os homens começam a cozinhar, trocar fralda, levar ao médico. A criança ganha um pai participativo, mais presente que em qualquer geração anterior, que brinca e cuida dela. O dinheiro e a segurança não são os únicos motivos pelos quais as mulheres trabalham. A realização pessoal também conta. E aí acontece um paradoxo.
Quanto mais gostam do trabalho, mais as mulheres se sentem culpadas,. Elas encaram como se abandonassem os filhos não por uma necessidade simples, mas por um motivo muito mais egoísta, que é se sentir bem com projetos pessoais. O trabalho dos pais, hoje, é motivo de orgulho para os filhos. Antigamente, ocorria o contrário. Dois estigmas pendiam sobre as crianças: o da mãe que trabalhava, pois significava que a família era pobre e precisava de duas rendas, e o dos pais separados. As crianças que viviam essas situações sofriam preconceitos e se sentiam diferentes do grupo. Hoje, o divórcio é uma situação normal, assim como o trabalho das mães.
Esse orgulho é um dos maiores presentes que os pais podem dar aos filhos. Sem perceber isso, muitos pais dizem a eles que vão trabalhar porque precisam. Melhor seria dizer, também, que vão trabalhar porque gostam, porque é legal. E que, um dia, ele também vai crescer e ter um trabalho bacana. O orgulho dos pais acaba se transformando em referência para as crianças. Como em todas as outras coisas, eles são seu modelo. Um pai que dá banho, troca fralda e faz o jantar mostra para os filhos que é normal para um homem realizar essas tarefas. Da mesma forma, a mãe que trabalha mostra para a filha que as mulheres também são responsáveis pelo sustento da casa; o mesmo vale para os meninos. Os pais dão o exemplo; as crianças ganham modelos que vão orientá-las para o resto da vida.
Existe ainda outra vantagem. Se você trabalha fora, a tendência é que se preocupe com o que realmente importa. Quando as mulheres começaram a ter empregos, a culpa era muito, muito grande, ainda maior que hoje. Isso resultou em mães permissivas, que não conseguiam dizer “não” aos filhos ao fim do dia. De lá pra cá, a situação melhorou muito. A culpa existe, mas não impede que os pais imponham limites às crianças. Por outro lado, se você passa menos tempo com os filhos, a tendência é que se preocupe apenas com os hábitos mais relevantes. Você entende a importância da flexibilidade e sabe que de vez em quando não tem problema ele ficar acordado até mais tarde ou tomar um sorvete.

Desde que não sejam hábitos diários, tudo bem. Para seu filho, o resultado é uma mãe menos focada em detalhes, que se preocupa com o que é importante e não vai brigar por coisas à toa. A criança não precisa ficar do seu lado o tempo todo para ser feliz. Ao longo da história, mesmo com as mulheres trabalhando em casa, os filhos não passavam o dia grudados em suas saias. Eles corriam e brincavam ao ar livre, sendo cuidados por toda a comunidade. “Criança precisa de criança”. Precisa brincar, correr, fazer amigos, desenvolver suas próprias habilidades e interesses. Ela tem mais chances de fazer isso se não passa o dia inteiro grudada na barra da saia da mãe.


Claro que é legal conversar com o filho por telefone, matar a saudade durante o dia, mas isso não pode ser tudo. É importante tocar, abraçar, brincar. De nada adianta ficar assistindo à novela enquanto ele brinca sozinho no quarto.
A vida é feita de fases. Nos primeiros anos, seu filho vai exigir mais a sua presença, precisar de cuidados constantes. Talvez essa não seja a melhor hora para iniciar uma pós-graduação, um MBA ou aceitar um emprego que exija muitas viagens. E isso vale também para o marido, que, afinal, está mais presente na família. Depois de alguns anos, as crianças vão entrar na escola e ficar mais independentes. Aí é hora de voltar a investir pesado na carreira.
Mesmo sabendo de tudo isso, nós mulheres podemos balançar. Isso porque as crianças mostram, de todas as maneiras, que preferiam que os pais estivessem em casa. Elas reclamam. E são espertas, vão reclamar daquilo que sabem que vai magoar. Se ela percebe que você se sente culpada por deixá-la, é exatamente nessa tecla que ela vai bater. Portanto, se você se sentir mais segura ao sair, vai passar esse sentimento para o filho, que ficará mais tranqüilo. Claro que um emprego flexível, que permitisse a você controlar seus horários, ajudaria bastante.
A correria seria menos intensa. Essa questão, e as mudanças que já estão ocorrendo, são discutidas na próxima reportagem. Mesmo sem elas, porém, você
pode se sentir segura. Pense em todas as coisas para as quais arruma tempo. A lista é extensa, não? Isso porque a mãe que trabalha tem muitos interesses.

Nenhum papel a limita ou define. Para a criança, essa mãe poderosa, capaz de dar conta de tantas coisas, é uma heroína. Um modelo que vale a pena ser seguido. Por isso, não se preocupe em dar conta de conciliar trabalho e filhos: você já faz isso.

Minha Dica de Leitura :
Catherine Hickem apresenta 7 princípios para conseguir um relacionamento saudável com os filhos e pôr em prática uma criação realmente eficaz, na qual as crianças possam construir a saúde emocional para se transformarem em adultos confiantes, equilibrados e seguros. A autora revela o melhor método para conquistar o amor e o respeito dos filhos por meio do companheirismo, da confiança e da fé.

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