O desenvolvimento da sexualidade

Olhar, tocar o sexo dos amigos, masturbar-se, beijar colegas, brincar de médico. Esses comportamentos só indicam que a sexualidade do seu filho está se desenvolvendo de maneira saudável.

A atual geração de pais considera-se mais bem resolvida sexualmente do que as anteriores. Até flagrar o filho de apenas 3 anos se masturbando. Alguns ficam perdidos, sem saber o que fazer. Outros simplesmente ignoram. Na sexualidade da criança não há erotismo nem malícia, que surgem por volta dos 8, 10 anos. Ela faz parte da aventura de descobrir o corpo – tanto o dela quanto o dos outros. "Essa curiosidade indica um desenvolvimento sadio", diz a psicanalista Maria Cecília Pereira da Silva. Mesmo assim, acompanhar esse desenvolvimento não é tão fácil quanto ver o filho dar os primeiros passos. "A sexualidade é embaraçosa porque é repleta de preconceitos. Os adultos tendem a pensar em sexo como coisa de gente grande. As crianças brincam com sua curiosidade sexual", afirma a psicanalista.

Um início suave

No primeiro ano de vida, as manifestações sexuais ainda não arrepiam os pais. É que o centro das percepções sensitivas e de prazer dos bebês está na boca. No entanto, por conta dessas sensações, lembra a sexóloga e terapeuta Rosenilda Moura da Silva, "os meninos já têm ereções e as meninas, embora seja difícil ver, lubrificação vaginal". A causa da excitação, acreditam pesquisadores, são os contatos físicos, como a amamentação e os carinhos, e as descobertas que o bebê faz com o próprio corpo, como levar as mãos e os pés à boca ou explorar os órgãos genitais – "algo natural que não deve ser reprimido pelos pais", diz a psicóloga Fernanda Roche.

A fase "punk"


Éo período entre os 2 e os 6 anos. A falta de pudor, própria da idade, leva a criança a andar e correr pelada pela casa. Algumas se mostram nuas para as visitas. O exibicionismo é diversão para elas. A retirada da fralda faz a criança perceber que é capaz de controlar o esfíncter (músculo envolvido na evacuação). O movimento é prazeroso para ela e estimula a exploração sexual. "Isso, em geral, ocorre por acaso. A criança encosta um brinquedo na vulva ou no pênis e pronto. Está descoberta a chave para a masturbação", diz a sexóloga Rosenilda. Haja jogo de cintura. Os adultos precisam explicar ao filho que a masturbação é um ato íntimo e deve ser feita num lugar reservado. Se for compulsiva, ou seja, a criança deixa de fazer outras coisas, os pais devem buscar orientação de um profissional. "O filho pode estar compensando, por exemplo, a falta de contato físico, de carinho, abraço, atenção", afirma a psicóloga Fernanda Roche. Ela lembra que entre 3 e 6 anos a criança aprende que pode expressar ou disfarçar seus sentimentos. A escolha está ligada às reações dos outros.

Jogos íntimos

Se a masturbação incomoda os pais, é melhor estarem preparados para o que vem a seguir, após os 3 anos. Além de adorar ficar pelada, a criança passa a ter uma desinibida curiosidade por corpos – o seu e o dos outros. Se houver chance, vai tocar, espiar e apertar qualquer parente ou amiguinho. Na escola, pode eleger um amigo, mostrar-lhe o sexo e querer ver o dele. "Os pequenos se apalpam, se lambem, se tocam, por pura curiosidade. Também porque é excitante descobrir o que o corpinho do outro esconde", diz a psicopedagoga Cláudia Maria de Morais Souza. A atitude é chamada de jogos sexuais. "Não existem atração sexual nem conotação erótica ou malícia", afirma a sexóloga Rosenilda.

A curiosidade deixa os pais de cabelos em pé. "Alguns questionam se a pegação e as lambidelas levam ao orgasmo", diz a psicopedagoga Cláudia Maria. Apesar de reações parecidas terem sido observadas em crianças, nessa fase elas ainda não fazem explorações sexuais para atingir o orgasmo, mas já estão aprendendo a tirar sensações do corpo. Mas cuidado! "Essas brincadeiras devem ser entre crianças da mesma idade. Se a diferença for igual ou maior a quatro anos é preciso prestar mais atenção porque pode ocorrer abuso sexual", alerta a sexóloga Rosenilda.

Os jogos sexuais instigam as crianças a brincar de médico e a se questionar sobre suas diferenças anatômicas. Meninos e meninas experimentam até fazer xixi em posições trocadas. Os pais podem deixar, pois faz parte das descobertas. A partir dos 3 anos, as crianças também demonstram curiosidade sobre a origem da vida. Questionam como os bebês entram e saem da barriga da mãe. É preciso sinceridade e explicações curtas.

Palavrões e imitação

Perguntas indiscretas, jogos sexuais, masturbações e exibição de nudez. Inclua também os palavrões nessa lista. "Se a criança escuta alguém falar, vai repetir por curiosidade e imitação", diz a sexóloga Rosenilda. E por uma intuição de que há algo de errado com esses nomes. Os pais podem ignorar os palavrões. Mas poderão ouvi-los várias vezes, pois a criança quer testar o limite. O melhor é perguntar onde ela ouviu e explicar o significado da palavra.

Além dos palavrões, seu filho pode imitar cenas vistas na TV.

Beijo

"Se a família costuma dar selinho no filho, os pais devem deixar claro que só o pai e mãe podem beijá-lo na boca", lembra Rosenilda. Mas essas bitoquinhas são polêmicas. Educadores dizem que, para a defesa da criança contra abuso sexual, a orientação deve ser outra. Que é preciso explicar ao filho que não é normal adulto beijar na boca de criança. E, se isso acontecer, ela deve contar imediatamente aos pais. Mas, se o beijo for entre crianças da mesma idade, relaxe. "Não é preciso punir. Diga apenas que beijo na boca não é coisa de criança. É uma demonstração de amor e carinho entre adultos", completa a psicóloga Fernanda Roche.

Fim da ingenuidade

A partir dos 6 anos, o interesse sexual da criança diminui. Na fase de alfabetização, ela está mais voltada para o conhecimento, e também entra em cena o pudor. Não quer mais tomar banho com o pai do sexo oposto. É o chamado período de latência, que vai dos 6 aos 10 anos. Os pais agradecem o fim dos exibicionismos. A masturbação, as troquinhas e os beijos entre colegas são menos freqüentes, mas não desaparecem. Aos 8 anos, garotos e garotas desenvolvem o conteúdo erótico. Eles têm ereções ao ver alguém pelado. E elas, lubrificação na vagina. "Isso acontece por conta do desenvolvimento cerebral. Antes dos 8 anos, não há sinapses suficientes para ligar a sexualidade ao erotismo", diz a sexóloga. A conversa entre esses neurônios decreta o "início do fim" da ingenuidade. Chega a puberdade, marcada pela produção de hormônios, mudanças corporais e muita vergonha. Em seguida, a adolescência, período em que os filhos se igualam sexualmente aos adultos.

Muitos pais acham que falar sobre sexo antes da adolescência com os filhos pode antecipar um interesse indevido na criança. Nada disso. "Quanto mais conversarem, mais tranqüilas as crianças ficam", garante a psicóloga Fernanda Roche. Não é preciso levantar a causa. "À medida que os filhos começam a se descobrir, deixe fluir para não virar tabu", aconselha a psicóloga.

Além da anatomia
Apesar das dificuldades, é preciso preparar os filhos para que tenham uma atitude responsável e saudável em relação ao sexo. Para isso, os especialistas aconselham que a educação sexual vá além das lições de anatomia. Que os pais tentem descobrir que sentimentos os filhos têm em relação ao assunto, como vergonha, medo, moralismos. Essa intimidade, por transmitir afeto, tende a aliviar os bloqueios nas conversas sobre sexo entre pais e filhos.

Pererecas e perus
A lista de apelidos dos órgãos genitais é longa e ninguém lembra como eles surgiram. "Como o sexo era relacionado a algo impuro, era pecado dizer os nomes verdadeiros", diz Rosenilda. Por isso os pais não devem trocar o nome dos genitais para a criança, sob o risco de lhe transmitirem preconceitos. Além disso, a criança entre 2 e 4 anos pode fazer associações literais e ficar confusa: a menina, por exemplo, duvidar que uma perereca de verdade se chame perereca; ou o garoto ficar chocado com o peru da ceia do Natal.

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